A inteligência emocional é mais do que um conceito. Espelha uma necessidade humana de se compreender a si e aos outros através do que sente. As emoções são os governantes das nossas acções. São elas que, no laboratório inconsciente das escolhas “decidem” os nossos comportamentos. Por isso é tão importante gerir internamente o que somos convidados a sentir. Saber o que sentimos é meio caminho andado para resolver problemas, criar soluções e aumentar a auto estima.
Mas a IE é algo que se aprende e treina. Amadurece-se com a experiência. Se as emoções são os nossos governantes inconscientes os nossos pais são Coaches emocionais. Pelo menos, numa parte importante da nossa vida assim deveria acontecer. E é na infância que tudo começa a acontecer.
Um dia a minha filha chorava na sala. Porquê? Essa foi a pergunta me fiz pois, aparentemente nada tinha acontecido nos 2 minutos em que tinha ficado sozinha a brincar. Inspector a caminho. Verifiquei se algo se passava fisicamente. Negativo. Restava saber que emoção se estava a validar.
Esta era uma tarefa difícil mas que estava disposto a assumir. Descobrir o que tinha acontecido em 120 segundos na cabeça de uma criança de 3 anos é tarefa para o Mcgyver emocional lá de casa. Como ele não estava decidi avançar. Com medo, vesti o casaco Sherlock Holmes. Calcei as botas do Super-homem. Pintei-me de calma e lá fui eu.
“Então filhota?!” Nota: esta abordagem tem tendência a piorar o cenário. Agora já sei. Não aconselho. Aliás nem esta nem nenhuma abordagem vaga só para meter conversa. Mas uma que costumo utilizar é chegar e não dizer nada. Ficar ali em silêncio à espera que, do outro lado, chegue um sinal quase sempre impercetível que quer dizer qualquer coisa. Nesse caso avanço com quase toda a confiança.
Depois do silêncio ficou um olhar em lágrimas. Fixei as lágrimas. É importante para a IE da criança um pai fixar as lágrimas. Quanto mais não seja para não desesperar com o “choro sem razão”.
“Percebo que estás a sentir qualquer coisa, não estás?” Respondeu que sim. Queres falar sobre isso? Respondeu que sim. “Então porque é que estás a chorar filha.” A resposta ainda hoje faz eco na minha cabeça. Enquanto ganhava balanço para mais umas lágrimas soluçou duas vezes. Olhou para mim e com os olhos mergulhados disse: “Não sei!”
Esta era a razão?! Socorro! Estou no meio de uma crise de pequena idade. Se eu fosse uma televisão tinha feito pausa. Parava ali mesmo. Voltava mais tarde e em silêncio para ver se estava tudo mais calmo. Como não foi possível assumi o comando. Só me faltou a torre de controlo. Era ver-me a dar soluções e dicas altamente elaboradas e sofisticadas. Expliquei que tudo era normal. Que eu às vezes também sentia isso. Essa emoção. Não quis dar nome à coisa para não baralhar a pequenina. Pensei que era o melhor a fazer. Saber dar nome às emoções é muito importante para racionalizarmos e escolhermos a melhor estratégia para superar o momento. Mas existem momentos que o melhor presente é o silêncio e um bom abraço. Daqueles que nos abrigam entre os braços.
Não tem de haver razão para chorar. E se há nem sempre é necessário saber qual é. Aprender a sentir liberta o coração do veneno dos pensamentos. É neste balanço que nos vamos conhecendo porque também somos o que nos deixamos sentir.
Boas viagens.