Constelações Familiares

As Constelações Familiares são uma abordagem terapêutica sistémica desenvolvida por Bert Hellinger, filósofo e terapeuta alemão, cujo principal objetivo é trazer à superfície dinâmicas inconscientes e padrões disfuncionais que se perpetuam nos sistemas familiares. Esta terapia sugere que muitos dos problemas emocionais, comportamentais e até físicos que enfrentamos hoje têm as suas raízes em eventos não resolvidos nas gerações anteriores. Através de um método experiencial, as Constelações Familiares visam reconectar o indivíduo com a sua rede familiar, restaurando o equilíbrio e a harmonia nos seus relacionamentos e na sua vida pessoal.

Princípios Básicos das Constelações Familiares

A terapia das Constelações Familiares está assente nos conceitos que Bert Hellinger chamou de “Ordens do Amor”. Estes princípios estruturam o funcionamento dos sistemas familiares, e quando são perturbados, criam desequilíbrios que podem ser transmitidos de geração em geração.

Pertencimento:

Cada membro da família, independentemente das suas circunstâncias ou comportamentos, tem o direito de pertencer ao sistema familiar. Quando alguém é excluído, marginalizado ou esquecido, gera-se um desequilíbrio. Esta exclusão pode manifestar-se em descendentes através de comportamentos, padrões de vida ou problemas emocionais que surgem como forma de restaurar essa pertença perdida.

Hierarquia:

Existe uma ordem natural nas famílias, onde as gerações anteriores (pais, avós) têm precedência sobre as gerações mais jovens (filhos, netos). Quando essa hierarquia é desrespeitada – por exemplo, quando os filhos assumem o papel dos pais, ou quando tentam “salvar” os seus progenitores – surgem dinâmicas disfuncionais, onde a criança, em vez de receber, sente-se obrigada a dar ou a proteger.

Equilíbrio entre dar e receber:

Este princípio refere-se à necessidade de equilíbrio nas relações, especialmente entre casais. Para que uma relação seja saudável, deve haver um intercâmbio equilibrado de afeto, apoio e compromisso. Quando um membro dá continuamente sem receber, ou recebe sem dar, cria-se uma desigualdade que pode levar à desintegração do relacionamento.

Bases Científicas e Teóricas das Constelações Familiares

Embora as Constelações Familiares sejam uma terapia relativamente recente e muitas vezes considerada não convencional, encontram suporte em várias teorias e estudos psicológicos e científicos. O conceito de que os padrões emocionais e comportamentais podem ser herdados de geração em geração tem sido amplamente estudado na psicologia moderna e na ciência.

  • O Inconsciente Coletivo e a Psicologia Transpessoal

    Uma das fundações teóricas das Constelações Familiares vem do conceito de inconsciente coletivo de Carl Gustav Jung . Jung sugeriu que os seres humanos partilham um vasto reservatório de experiências, memórias e padrões emocionais inconscientes que transcendem o indivíduo. Este inconsciente coletivo não é apenas um reflexo da nossa vida pessoal, mas também das experiências de gerações passadas, guardadas na nossa psique. Estes padrões emergem na vida consciente sob a forma de medos, desejos, traumas ou comportamentos repetitivos, mesmo que não estejam diretamente relacionados com a experiência pessoal do indivíduo (Jung, 1969).

  • Epigenética e Transmissão Intergeracional de Traumas

    Recentemente, o campo da epigenética tem vindo a fornecer evidências que apoiam a ideia de que traumas e experiências emocionais podem ser transmitidos de uma geração para outra. Estudos mostram que eventos traumáticos, como guerras ou abusos, podem causar alterações nos genes que afetam a forma como os descendentes lidam com o stress e com as emoções. Um estudo marcante sobre descendentes de sobreviventes do Holocausto revelou que traumas vividos pelos pais resultaram em alterações epigenéticas que afetaram os filhos, mesmo aqueles que nasceram muito tempo depois dos eventos traumáticos (Yehuda & Bierer, 2009). Esta linha de investigação vem confirmar o que Hellinger observou empiricamente: que traumas não resolvidos numa geração podem manifestar-se em gerações posteriores.

  • Campos Morfogenéticos

    Outro conceito que encontra paralelo nas Constelações Familiares é o de campos morfogenéticos, proposto pelo biólogo Rupert Sheldrake. Sheldrake sugere que existe um campo energético invisível, o campo morfogenético, que transmite informação e padrões de comportamento dentro de sistemas biológicos, incluindo famílias. Este campo contém a “memória” de experiências passadas que influenciam o comportamento e o desenvolvimento dos indivíduos dentro desse sistema (Sheldrake, 2009). Assim, os campos morfogenéticos podem ser vistos como um elo entre o inconsciente familiar e os comportamentos manifestados pelas gerações seguintes.

Como Funcionam as Constelações Familiares?

As Constelações Familiares geralmente são realizadas em sessões de grupo ou individualmente, facilitadas por um terapeuta especializado. Numa sessão de grupo, o cliente apresenta uma questão ou problema pessoal que deseja explorar (relacionamentos, saúde, carreira, etc.). Outros membros do grupo são convidados a representar figuras importantes na vida do cliente, como pais, avós, ou até conceitos abstratos, como a morte ou o destino. Estes “representantes” são escolhidos intuitivamente e, através de um processo experiencial, começam a expressar sentimentos, perceções ou sensações que espelham as dinâmicas emocionais profundas do sistema familiar do cliente.

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