Tal como uma tarte de maçã deve saber a maçã. É para isso que foi feita. A vida deve ter sabor a felicidade. Parece haver no nosso código genético uma reivindicação inconsciente que nos convoca para a liberdade, a luta pela vida e a felicidade.

Mas a felicidade que todos desejamos nem sempre acontece. Isto porque somos “amestrados” a desfocar a nossa visão do que realmente interessa. E o que torna ainda mais difícil é que existe uma diversidade de caminhos para ela. Por isso resta-nos explorar a vida com a atenção máxima sobre o que acontece em nós quando a vivemos.

A alegria é um bom ingrediente para a vida. Ouvi um dia um filósofo dizer que a alegria é a passagem para um estado mais potente do próprio ser. É quando acedemos à nossa natureza e a potenciamos com a energia da nossa alma.
Depois de descodificar fiquei a sentir que a felicidade é quando nos transcendemos. Quando estamos a fazer algo e nem damos pelo tempo passar. Quando a energia do cosmos percorre o nosso corpo e sabemos que o que fazemos nesse momento serve o nosso bem maior. Serve os outros portanto. Estamos no nosso lugar. Esse é o lugar da felicidade e é nesse lugar que ela acontece em nós.

Estava a meditar sobre isto quando a aula de ginástica da minha filha começou. Algo naquela sala me agarrou o olhar. Fiquei quieto a observar. As crianças sentadas a cantar mas nem todas tinham a energia a fluir pelo corpo. Nem todas tem natureza de cantores. Sabemos disso. O professor João esse sim. Desde o primeiro momento percebi que estava no seu lugar.

Deixei-me ir no que estava a sentir. Havia uma emoção que teimava em manter-se presente no meu olhar e no meu coração. Assim que acabou a canção levantaram-se e começaram os exercícios. A emoção espreitava com mais afinco. Percebi que algo de muito mágico estava a acontecer na sala. Ou em mim. Estava prestes a redescobrir algo muito importante.

As crianças exploraram cada exercício como se fosse o único. Bonito de ver. Cada uma tinha o seu preferido naturalmente. Mas uma pequenina na sala chamou toda a minha atenção. O código genético dela fez ressonância no meu. Eu desconfiava que ela gostava de ginástica mas tanto nunca pensei. Cada cambalhota, cada roda, cada pino, cada aparelho era acompanhado por um sorriso de conquista. Daqueles que nos mostram que somos capazes. Ela sabia isso e a energia começou a aparecer. Conquistou cada movimento com a alegria de quem se descobre. Com a felicidade de quem se encontra.

Às vezes olhava para mim e com o seu polegarzinho indicava-me que estava no sítio certo. Era como se o dedo indicasse o caminho da sua felicidade. E consequentemente da minha também. Acendeu-se o “alerta lágrimas”. Mas era tarde demais para suster. E também suster para quê? Afinal estava a ser testemunha de um momento de felicidade.
Mesmo separados por um vidro senti que a felicidade também cambalhotava com ela. As barras e os desafios superados eram gatilhos perfeitos para aumentar a energia que lhe chegava do cosmos. O Universo inteiro, pela felicidade que ela sentia, subia os aparelhos com ela. Também caía com ela. Começava com ela. A felicidade estava de mão dadas com uma criança de 5 anos.

Eu, ali sentado confirmava que a felicidade é algo que contagia. Que está no momento em que percebemos que estamos a fazer o que é certo. Os resultados na vida são a dimensão da felicidade posta em prática através das escolhas que fazemos.

Ela a ginasticar e eu a observar estávamos felizes. Talvez por me ter permitido sentir. Por me ter deixado ir na energia que chegava. Por estar quieto e perceber que estava no sítio certo.
A vida permite-nos demorar o tempo que precisarmos para descobrir o nosso lugar. A nossa natureza. Depois disso ela nunca vai entender o tempo que desperdiçamos sem fazer tudo para prolongar esse momento. Para repetir esse momento.

Ser pai é dos momentos que mais anima a minha felicidade. Estar consciente disso facilita muito o meu caminho e o da feliz ginasta. Poderemos os dois caminhar juntos, de mão dadas, nesta felicidade.

Bons exercícios.