O metro chegou. Com ele a corrente poderosa do “quem entra primeiro sou eu” começa. Todos tomados por uma energia de escassez inicia-se o ajeitamento dos corpos Danone nas filas desgovernadas. Tanta técnica foi aprendida numa viagem à China. Oiço as mentes quentinhas a dizer “este espaço e meu”.

Parece que aconteceu um choque elétrico nas mandíbulas. Serram os dentes e a coisa começa. Empurram com a barriga. Com as nádegas. Com os olhos e com os olhares. É tão poderoso que há malta que deve comer tanto ao almoço para estar preparado para a entrada olímpica.

A porta abre. Nem deixam sair. O primeiro está a perder óleo. Até derrapam no arranque. Quem está la dentro procura um caminho de fuga. Uma esperança. Um qualquer António Guterres que possa abrir um espacinho. O desespero instala-se. Ou melhor aprofunda-se. A sorte é que existe sempre um agente imobiliário holístico pronto a vender o espaço de saída em troca de um sorriso. Ou então apenas porque quer entrar.

Lá acontece a troca. A malta já esganiçada, de aura pesada, entra preparada para a biodanza com ancas, malas, livros e radiações de telemóvel, odores e cenas. Este é um Workshop de desenvolvimento pessoal mais intenso que conheço. À força, mas de desenvolvimento pessoal.

Com sorte, podemos ter uma pregação telefónica. Saberemos o que é o jantar, quem dá banho aos miúdos e onde irá acontecer a zumba espiritual da noite.

Acaba por uma ser uma oportunidade de reconhecermos o nosso espaço físico, mental e espiritual. A energia está lá mas a consciência teima em escapar-se para outros lugares levada pela pressa. Queremos chegar sem saber onde. Queremos estar sem saber por onde. Queremos ser tudo o que não somos. Fica apenas o cérebro a comandar os vazios emocionais trazidos do dia anterior, da semana anterior, mês, anos ou vidas passadas.

Vidas corridas a passes sociais para a tristeza. É preciso estar atento. Presente. Trazer a consciência para o presente.

Com isso até o metro é divertido.