Somos muito do que os nossos pais fizeram aos nossos “olhos”. A nossa mente é matéria-prima talhada também por eles. Os primeiros anos de vida são uma eterna marca de amor ou falta dele que contribui para a forma como nos vemos. Sou filho, sei disso. Sou pai, faço isso.

As marcas feitas pelos seus gestos, as flores plantadas, as luzes apagadas, as sementes a longo prazo deixadas. A luz acordada. A sombra motivada. As palavras ditas. As esquecidas. As suaves e as outras. Os abraços apertados. Os imortalmente perdidos que deixam os porquês a afundar os corações. Os momentos de ausência que aparam a confiança. Os de alma pintados que param o tempo. As culpabilizações e as vitimizações. As criticas por tudo e por nada. Que desassossego.

As agressões só porque sim. As humilhações sem preço tabelado mas com juros passivos emocionais a longo o prazo. As vergonhas sem data marcada. As desconfianças. Os “quem és tu para ter opinião?”. Os “sabes lá alguma coisa da vida?”. Como se uma criança não fosse real. Como se não tivesse escolhido nascer. Como se não tivesse iluminado a sua vontade de estar ali com a alma. Com a sua alma. Encontram-se assim. Pais às escuras e os filhos a perder a luz.

Mas ainda há os “amo-te”. Os “gosto de estar contigo.” “Adoro as tuas características.” “Aprendes com alegria”. “És inteligente.“ “Adoro ser teu pai/mãe.” “Que bom ver-te.” “Obrigado.” “Isso não.” “Compreende os teus limites.” “Respeita-te.”. “Estou contigo para te ajudar a ser o melhor que conseguires ser.”. “Compreendo-te.”. “Vejo-te.”. “Bem-vindo filho.”

Cada palavra, casa gesto, cada olhar, cada sentimento conta. Conta tudo. Desde sempre. Desde o momento da criação até hoje. Desde o útero. Sobretudo aí. Também aí. O nascimento. O acolhimento após o nascimento. Mas nada começa aí. Esse é um dos momentos. Começa tudo muito antes. Sou filho, sei disso. Começa no projecto da nossa alma.

Somos muito do que os nossos pais fizeram aos nossos “olhos”. Mas somos muito mais quando conseguimos fazer com isso algo maior que nós. Estamos feitos para isso. Para sermos maiores do que pensamos ser. Estamos feitos para sermos quem somos. Amor e luz. Qualquer caminho nos levará a isso. Sou filho, sei disso. Sou pai, sinto isso.

A nossa escolha como filhos é um sinal da alma.