Pai? Posso levar os meus golfinhos para a escola?
Qual deles filha?
Todos, pai. Naturalmente.
O “todos” eram apenas 6. 3 relativamente pequenos. Dois relativamente grandes. E um enorme. Na verdade nunca pensei que fosse possível sequer fazerem um Golfinho de peluche deste tamanho.
Depois de a questionar sobre possibilidade de serem demasiado pesados respondeu-me com um silêncio. Daqueles silêncios que nos dizem que algo de muito importante está para acontecer na cabeça deles. A última vez que ocorreu ganhei uma parede subtilmente pintada com marcadores. Cada traço mais profundo que o outro. Uma beleza.
Enquanto acabava de me preparar ela arrumou a Gangue dos Golfinhos em dois sacos previamente selecionados. Empilhados uns nos outros os peluches pareciam chamar o meu nome. Estava a sufocar. Acedi ao pedido. Subtilmente abordei a “Madrinha”.
“Querida. São muitos. E lembra-te que a tarefa de os levar é tua. Não será melhor escolher apenas um ou dois?”. Disse isto para lhe mostrar a minha flexibilidade, entendem? Na verdade queria que ela escolhesse o mais discreto e mais leve.
Revelou-se aparentemente impossível. Todos sabemos que uma criança consegue ser bastante convicta nas suas escolhas. Atendendo que era o último dia decidi acolher o desafio. Acompanhar a minha filha neste percurso de quase 800 metros com dois sacos na mão cheios de Golfinhos. Recordo que um deles até deixou o focinho de fora para poder respirar.
Esperava que a coisa se complicasse antes mesmo de sair de casa. Estava em esforço. Era percetível. O meu leque de argumentos estava pronto. Assim que me desse uma oportunidade soltava-os com o amor sábio de pai.
Depois de sair do prédio a sua vozinha suave dizia algo que tornou o me dia mais especial. Murmurava a seguinte frase: “Tu consegues. Tu consegues.” Disse isto durante todo o percurso. Alternava com um “Eu consigo”.
Olhos fixos no objetivo. Estratégia bem preparada. Execução no momento certo. Auto-motivação elevada. Parou algumas vezes no caminho. “Apenas para trocar de mão” – disse-me.
Uma conquista faz-se passo a passo. E parar não significa que se esqueceu. É apenas para relembrar o objectivo.
Ela tinha razão. A Gangue dos Golfinhos precisava ir até à escola. Os olhos de felicidade da pequena Eva brilhavam de orgulho e confiança. Eu, feliz por ela, saí com a sensação reforçada que tenho muito a aprender com ela. Os meus olhos também se banhavam.
Depois deste dia algo mudou nela. Está mais confiante e mais segura que é capaz. Um desafio para nós pais que precisamos acompanhar as suas descobertas confiantes. Aumentaram. Mesmo.
Depois deste dia algo mudou em mim. Vi que, dar autonomia à minha filha faz de mim um pai mais competente.
Quantas vezes dizemos às crianças que não é possível? Que eles não conseguem? Com boa intenção oferecemos ajuda sem eles pedirem limitando assim a sua confiança?
Quando eles conseguem nós conseguimos também.